Foi natal e, por dois momentos, houve silêncio, abraços e, de novo, intemporalidade: a “poesia”, sabemos, é noção cada vez mais ausente do léxico em formação. Não fomos, assim, tão “informados” – ou distraídos – e existiu um pouco menos de “partilha de ficheiros”. Não quisemos saber, tanto, acerca do que se passava no “mundo”. E, provavelmente os “menos sãos” de entre nós, evitaram as redes sociais. Podemo-nos queixar de muita coisa: que não recebemos livros ou cd´s por terem sido convertidos em mais um par de meias, boxers, gravatas, ou prendas mais ou menos despersonalizadas como, por exemplo, o gadget da marca standardizadora e monopolista do costume. Devo dizer, relativamente a isto, que sou “um chato”: “difícil”, “exigente” e, por isto, ainda me oferecem um pouco de tudo. Contudo, nestes dois dias de interrupção do “progresso”, existiu, pelo menos, um regresso. Áquilo que não foi totalmente “corroído” pela crise económica e financeira – peço desculpa pela lembrança mas voltamos, até à noite de passagem de ano, à realidade -, pela “globalização” ou pelo sistema de “conectividade” tecnológica e digital: não estivemos com representações nem “avatares”. Estivemos, “outra vez”, com pessoas. Que foram e são – por mais que nos queixemos delas e elas de nós -, afinal, o nosso sustentáculo emocional de sempre. E, por mais descaracterizada que esteja esta altura do ano, pusemos de lado o “futuro”, a “ciência” – com todos os seus estudos encomendados -, a “inovação”, a idealização de novas “aplicações”: toda a conversa e terminologia que costuma acompanhar a utopia. Para retomarmos a memória. Porque a humanidade, por mais que queira fugir e esquecer, nunca se fez, exactamente, à custa de “próteses” nem “extensões”. Não há, afinal, sinal de maior “loucura” que a “partilha de ficheiros”, resolver “os problemas do Ruanda” através de comentários em redes sociais ou sermos seguidos através do Twitter na ânsia de popularidade “comunicacional”. No meio disto tudo: “desviamo-nos”. Quantas questões, dentro de casa, ficam por resolver? Sei que o que escrevo não passa de uma repetição de uma repetição. Quem não sabe, intimamente, isto tudo? Não é por isso, de qualquer forma, que o ser humano, na ânsia de resolver os problemas “dos outros” à distância, consegue deixar de estar cada vez mais longe e menos “conectado” consigo mesmo. O ano que vem vai-nos trazer, através dos óculos da Google, mais “realidade aumentada”, menos privacidade e, por isso, menos intimidade. E – já nos foi prometido excitadamente pelos gigantes do digital e pelos “mestres da alienação” – nada disto ficará por aqui. Longe disso. Voltemos a este assunto no próximo natal. Boas Festas.
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Natal: dois momentos de “silêncio”
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