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“Transparência”: A Era do Voyerismo

Existe um determinado ambiente – que a tem tornado cada vez menos diversificada – que se vem estendendo a vários domínios da indústria mediática e televisiva. Predominam os voyerismos. Desde o inaugural, embora muito “virgem” para o panorama actual, Big Brother que se generalizaram, e “sofisticaram”, todo um naipe de “conteúdos” que, apesar de serem bem preparados, nos querem fazer crer que mostram uma suposta realidade humana. Existe uma pretensão: parece que, nesta época de “transparência” e de rara confidencialidade, nos “temos” de “observar”, continuamente, uns aos outros. Experienciamos, através do visionamento de uma série de “produtos” – que, com pequenas variações, parecem, de facto, montados em cadeia -, a ilusão de entrarmos em contacto com o ser humano como ele “realmente” é. Dando-nos, assim, uma, já não rara, oportunidade para podermos fazer todo o tipo de comentários sobre os intervenientes. Contudo: em circunstâncias bastante condicionadas. O Homem, naturalmente, já representa. Ele é, de forma inconsciente ou consciente, uma espécie de avatar – para utilizar, aqui, o jargão em voga – ambulante. Mas para poder “vencer” e não ser expulso: põe-se bem controlado. Bem comportado. De certa forma: “aprisionado”. Limitado por directrizes internas. Por um guião meticulosamente projectado para cada uma das emissões. Pelas múltiplas câmaras que são estrategicamente colocadas nos vários cantos da “casa”, da “quinta” ou do “bar”. Através da “reality tv” nunca sabemos, ao certo, onde pára a verdade. Cada um dos, meticulosamente escolhidos, concorrentes utiliza um tipo de imagem – até cair – que deseja projectar para o “exterior”. É competição que se extrema. Que entrou, posteriormente, noutros campos “comunicacionais”. As redes sociais amplificaram este novo género de controle civilizacional. E, talvez por isso, multiplicam-se os perfis que nem sempre correspondem à “realidade” de cada um dos usuários. A espionagem global arranja, deste modo, alguns anti- corpos. Mas se nos confiscamos, agora mais afincadamente, uns aos outros: porque deixaria um estado, ou uma qualquer empresa do sector tecnológico, de o fazer? Foi este o golpe de génio. Dando-nos as “armas” para que nos posicionemos no mesmo nível de comportamento social: não nos poderemos queixar de práticas “superiores” de intrusão. Se “eles” o fazem: nós também. Se nós fazemos: “eles” abusam.